NA GRANDE ÁREA
AO LONGO DA semana, por conta das Olimpíadas, falei muito sobre o treinamento mental de nossos atletas – e a ausência desse componente –, pois seguimos colecionando alguns exemplos de derrotas por falta desta preparação. No futebol isso recebe o nome de “amarelar”, e quanto as competições são individuais, isso pesa mais do que parece. Gabriel Medina, em Tóquio, vinha de uma instabilidade emocional violenta, e fez água. Recuperado, readquiriu a chance de conquistar uma medalha de ouro em Paris – ne verdade, no Tahiti.
SIMONE Biles é outro exemplo. Abandonou uma competição por conta de transtornos, admitindo-os corajosamente, e voltou em plena forma. Sua adversária direta, a nossa rainha atual da ginástica, Rebeca Andrade, felizmente é bem-preparada neste aspecto. Seu foco é nítido; a descontração, mínima, e seu medo de errar parece não existir. Portanto, antes de maximizar uma derrota olímpica, devemos levar em consideração não apenas as questões físicas em técnicas, mas emocionais também.
ALIÁS, o tricampeão Tostão refletiu sobre esses aspectos em artigo publicado na Folha de S. Paulo. Uma agradável sugestão de leitura.
O JUDO sempre proporciona momentos emocionantes nas Olimpíadas, mas o sorrido da nossa medalhista de ouro, Beatriz Souza, foi demais! Caio Martins, nosso medalhista de prata na marcha atlética, também exibiu uma simpatia sem igual, além de algo sensacional: sua superioridade emocional para superar o preconceito contra as “reboladas”. Por enquanto, nos deixaram cenas inesquecíveis!
POR FALAR em judô, ainda sobre esse aspecto, Mayra Aguiar não escondeu um triste depoimento sobre sua eliminação precoce da competição: “eu estava mentindo pra mim o tempo todo; fiz várias cirurgias, tenho dores, mas tento não sentir nada; porém, nosso corpo não oferece sempre as mesmas condições”. É triste, mas é a realidade.
EM TEMPOS de mídias sociais, divulgação da baixa “ajuda de custo” aos atletas brasileiros causa polêmica e deve ser feita dentro de contextos. Até o presidente Lula tentou justificar que atletas de melhor performance recebem patrocínios da iniciativa privada, o que é óbvio, mas enquanto o Brasil se interessar apenas pelo futebol, não podemos esperar mais do que nossos corajosos representantes têm feito.
ESTE FINAL de semana está reservado para o atletismo, a modalidade mais tradicional das Olimpíadas. Certeza de algumas boas surpresas para o Brasil. Mas, não deixe de acompanhar o nosso vôlei de praia feminino, classificado com 100% de aproveitamento, e obviamente, ela, Rebeca Andrade.
QUEM nasceu nos últimos quinze anos, filho de palmeirense, está vivendo uma fase de glórias e certamente orgulhoso por torcer pelo mesmo time. Os jovens que nasceram na década de 1980 igualmente tiveram muito o que comemorar se o pai torcia para o São Paulo.
MEU filho Giovane nasceu no final da década de 1990 e quando começou a dar seus primeiros chutes, vestia as cores do alvinegro do Parque São Jorge. Teve a chance, portanto, no início dos anos 2000, de chorar de alegria com os títulos do Timão. Inclusive com o bi mundial, diga-se de passagem. Quanto aos santistas mais jovens, como é o caso do meu amigo Cassiano Galzerano, o rei da Avenida Ana Costa, até hoje devem na memória as façanhas de Neymar, Robinho e Diego.
PORTANTO, como no futebol não existem vitórias ou derrotas eternas, as agremiações vivem de fases, pois nada dura para sempre. Quando o Brasil ganhou a Copa de 1994, depois de enfrentar um jejum de 24 anos, os brasileiros se animaram porque, finalmente, pensamos erroneamente que voltávamos a um ciclo de conquistas.
O PROBLEMA é que o Brasil tem problemas estruturais. É um país de enormes diferenças e que insiste, especificamente no futebol, na crença que a cada semana uma maternidade recebe um craque em potencial. Por isso vimos na Copa do Catar não apenas a estrondosa evolução da escola europeia como até mesmo de países árabes e asiáticos. O Japão venceu a Alemanha, lembram-se?
ESSAS nações refletem o que pensam seus governantes, cobrados por seus governados. Estudam mais do que nós, pesquisam e valorizam a ciência. Aqui seguimos com a Lei de Gerson, “certo”?
A CBF é culpada por esta fase, na qual sequer nos classificamos no futebol masculino para as Olimpíadas? Em parte, sim, mas as questões são mais complexas. As torcidas são imediatistas e por isso aconteceu a recente guinada em busca de treinadores estrangeiros, portugueses em especial. Eles são melhores que os nossos? Em minha opinião, são no que se refere à disciplina tática. São mais dependentes dela e assim aumentam as chances de acertar.
SEI QUE muita gente não assistirá Brasil e França neste sábado pelas quartas de final das Olimpíadas, porque não se interessa pelo futebol feminino, mas arrisco dizer: se a nossa seleção fosse um pouquinho melhor, como já tivemos no passado, todos estariam com os olhos grudados. Portanto, somos movidos por vitórias. É o imediatismo do atraso.
NOSSA SELEÇÃO acumula anos de um treinamento errático, coordenado por uma técnica acostumada com meninas que lhe obedeciam. Arthur Elias não teve o tempo suficiente para preparar esse time, que por enquanto joga como os garotos do Sub-9: todas correm atrás da bola, só isso.
SÃO PAULO e Flamengo fazem o jogo mais interessante deste final de semana, no horroroso horário das nove e meia deste sábado. Palmeiras tem jogo complicado contra o Internacional, em Porto Alegre, e o Coringão recebe o Juventude, domingo, provavelmente jogando com uma equipe alternativa, se é que ela existe.
E PARA fechar: sensacional a eliminação da Argentina, no futebol olímpico, exatamente pela França, país que hostilizou recentemente com cantos racistas. Não deixa de acompanhar a última semana das Olimpíadas. Sigo me emocionando, não pelo Brasil, mas por nossos valentes desportistas. Ótimo final de semana amigos!
Roberto Lucato