Desde a metade do século passado, quando algumas nações europeias rasgaram os oceanos em busca de riquezas e dominação, uma espécie de regramento social foi imposta aos povos “descobertos”. Este conjunto de normas sociais, construída entre batalhas internas e externas, não era exatamente a representação da perfeição. Tanto é que, na medida que os “dominados” conquistaram suas respectivas independências, passaram a escrever com suas próprias mãos o que seria condenável ou não, aceito ou tolerado por sociedades remanescentes de um viés impositivo. Entretanto, grandes reviravoltas que sacodiriam os europeus há cerca de trezentos anos, demonstraram o quão imperfeitas estavam aquelas regras, especialmente no caso das chamadas liberdades individuais. Mesmo assim, em relação às mulheres, o reconhecimento de paridade neste sentido foi tardio e até hoje se encontra incompleto.

Os mais simples direitos como votar, no caso brasileiro, surgiram apenas há menos de cem anos, e nas últimas décadas, é fato, percebe-se uma corrida contra o tempo para restaurar alguns vazios ainda presentes. Porém, mesmo com todo este esforço, a realidade parece não caminhar na mesma velocidade com a qual são criadas leis e medidas de proteção, e a pergunta é: por que? Parecem existir poucas dúvidas quanto a influência, ainda existente, de aspectos culturais no comportamento dos homens, pois parece impossível acreditar que desconheçam seus limites na escala social. Mas o que definitivamente pode fazer a diferença nesta construção, que diariamente se transforma, está na aplicação das leis ou, melhor interpretando, na capacidade do Estado, através de seus poderes constituídos, em identificar e punir os transgressores. A prisão do estrelado jogador Daniel Alves, na Espanha, pode ser analisada de diversas formas, menos de ter sido exagerada. Do contrário, não apenas ele se livraria de pagar por atos – e aqui compreenda-se ser julgado por esses –, como comprovaria que o mundo, é mesmo, dos espertos e endinheirados.

O fato de a vítima ter renunciado ao ressarcimento pecuniário, inclusive, evidencia que não há preço que pague a humilhação e a desonra, e embora emblemática, a atitude demonstra o quanto as feridas não existem apenas expostas, sendo tão graves quando interiores. As sociedades ainda são imperfeitas, mas esta é uma prova que não devem prescindir de avançar, ao menos de cumprir o que exigem suas regras.