Um pouquinho melhor aqui, um tantinho pior ali, o fato é que a maioria dos jogos desta Copa tem apresentado, do ponto de vista da plasticidade, um bom nível. E, durante toda esta semana, os últimos confrontos da terceira fase definirão as equipes que se juntarão a Brasil, França e Portugal nas chamadas oitavas de final. Os jogos desta terça-feira, que envolvem as equipes dos grupos A e B, porém, não podem ser considerados como “imperdíveis” se levarmos em consideração apenas o futebol apresentado até aqui. Mas, um deles chama muito a atenção porque colocará frente a frente Estados Unidos e Irã, nações que desde 1979 não possuem relações diplomáticas. E que, há exatos 24 anos, quando o governo iraniano acenava com mais entusiasmo ao ocidente, realizaram em gramados franceses o que seria conhecido como o “Jogo da Paz”. Naquela ocasião, segundo depoimento de profissionais que cobriam a Copa da França, o nível de segurança em solo francês foi extraordinário dado aos riscos de atentados. Quase duas décadas e meia depois, se esses riscos diminuíram, não se pode dizer que desapareceram, por fatores extracampo que evoluíram nos últimos dias. Do lado dos Estados Unidos, uma postagem com a bandeira do Irã modificada foi o suficiente para provocar uma reclamação dos adversários de hoje, o que incluiu, ainda, manifestações agressivas dos jornalistas iranianos durante as coletivas de imprensa. Do lado do Irã, informações publicadas hoje pela rede CNN dão conta que os membros do Corpo da Guarda Revolucionária Iraniana estão agindo ativamente desde que os atletas se recusaram a cantar o hino nacional na partida de estreia. Não apenas se reuniram com o técnico da seleção, o português Carlos Queiroz, como deixaram claro que, em caso de manifestações contra o regime, as famílias dos jogadores estariam sujeitas a “violência e tortura”. Nas arquibancadas o clima também será de tensão, até porque ontem ocorreu a primeira invasão de campo por conta de uma manifestação a favor dos direitos das comunidades LGBTQUI+, e não seria nenhuma surpresa que uma nova ocorresse, desta vez para lembrar a morte de uma mulher por se recusar a obedecer às orientações do governo – o caso é muito recente e foi alvo de repúdio em várias partes do mundo. Dentro de campo a temperatura do confronto é imprevisível e promete ser bem disputado. Afinal, as duas seleções possuem chance de classificação, mas fora dele nos resta torcer para que nada de pior aconteça.