Ontem tive a confirmação que, depois da roda, podem me falar sobre os computadores, a internet ou os aparelhos celulares, mas, a maior invenção de todos os tempos foi o controle remoto. Isso porque, depois de encerrado o primeiro bloco do debate eleitoral, preferi manter na tela da TV meu programa predileto das noites de quinta-feira: a Praça É Nossa. Durante os intervalos, voltava para a Globo, na expectativa não mais para ouvir propostas, mas para saber qual seria o candidato que mais irritaria o seu oponente. Entre idas e vindas, então, meu Oscar foi para… o padre Kelmon.

Personagem recente nos embates presidenciais, o petebista já havia reverberado no debate anterior, quando se posicionou ao lado do presidente Jair Bolsonaro. Mas ontem, sinceramente, ele se superou. A frieza com a qual ele enfrentou o ex-presidente Lula, nominando as prisões de seus assessores e ministros, definindo sua gestão como a “mais corrupta da história da humanidade”, criou um dos momentos de maior tensão. Lula ficou visivelmente perturbado com as acusações tão diretas, a ponto de continuar o bate-boca mesmo fugindo das regras – se bem que, continuando frio e calculista, Kelmon fez pior. Mas o padre não parou ai, também tirou do sério a candidata Soraya Thronicke, que desta vez quase virou onça, mesmo. Sua “brincadeira” de perguntar se ele não tinha medo de “ir para o inferno” foi prontamente rebatida como um desrespeito a uma autoridade religiosa. No mais, tecnicamente, a Globo deve ter ficado satisfeita com o primeiro bloco, quando os pedidos de resposta entre Lula e Bolsonaro tomaram mais tempo que as perguntas.

A audiência deve ter batido recordes. Lula, desta vez, acatou as orientações de seus marqueteiros e enfrentou todas as acusações que lhe fora, desferidas, mas nada que a imprensa não tenha divulgado na última década. Bolsonaro, por sua vez, voltou a se comunicar com seu público e demonstrou um certo cansaço por ter que repetir mantras como a queda no preço dos combustíveis e o aumento do Auxílio Brasil. Para não deixá-los de fora, sobre o desempenho dos demais candidatos.

Ciro Gomes, desta vez, esteve um tanto perdido, algo que lhe é incomum. Simone Tebete, ainda que tivesse mantido sua condução segura dos temas propostos, faltou colocar algum sorriso no rosto, uma vez que fala tanto de amor e união. Finalmente, Felipe D’Avilla conseguiu dizer outra coisa que não fosse “empreender”. Jornalisticamente resisti, mas emocionalmente meu voto foi para Carlos Alberto de Nóbrega.