Desde as investigações do “Petrolão”, passando depois pelas operações da Lava-Jato, gigantes da vida empresarial do Brasil inseriram em seus manuais de procedimento o termo “compliance”, exigindo de seus diretores e colaboradores algo além da produtividade. Na verdade, o expediente remete ao cumprimento de padrões éticos que normalmente eram subjetivos ou pessoais, mas que, devido a escândalos e casos deliberados de corrupção, passaram a ser catalogados.
Situações anteriormente simples como ditar um memorando para uma secretária após o expediente passou a ter certas exigências que, se podem ser exageradas em alguns casos, protegem a individualidade dos atores. Reuniões com membros de um governo, por exemplo, também foram submetidas a um novo regramento e tudo foi – e é – pensado para evitar benefícios escusos, mal-entendidos e constrangimentos.
Faz pouco tempo, o presidente da CBF, Rogério Caboclo, foi afastado de suas funções após denúncias de assédio moral e sexual registrados por sua assistente direta, incluindo uma boa oferta de seu superior para que o caso fosse abafado. E o assédio sexual, entre tantas condutas criminosas e dispensáveis, é o mais comum e grave. Em primeiro lugar porque se trata de um desejo de impor submissão em função de um cargo, desprezando a individualidade de alguém que deve mantê-la dentro de uma organização. Depois porque tem reflexos na vida pessoal, abalando relacionamentos em função de uma tentativa ou de uma ocorrência.
O que acaba de ocorrer com Pedro Guimarães, ex-presidente da Caixa Econômica Federal, é o mais recente de uma lista de casos escabrosos, com requintes de vergonha alheia. Afinal, receber de uma acusadora a descrição de um “boto exibicionista” não é algo que se deva comemorar. É claro que existem reflexos políticos, pois ele era uma espécie de papagaio de pirata do presidente, mas perdeu sua boquinha – na qual gastou mais de dois milhões de Reais somente em passagens aéreas em um ano – porque foi mais que um simples boto. Se achou um “broto”, como muitos executivos continuam se achando por ai.