Tudo indica que foi uma mera coincidência, mas exatamente ontem, dois políticos que foram até as últimas consequências, e isso em nome de um projeto pessoal, tomaram decisões até meses atrás impensáveis. Ao menos diante de suas declarações públicas, João Dória e Eduardo Leite sempre demonstraram firmeza em suas convicções. O primeiro, personagem avaliado em diversas ocasiões nestes comentários, fez o que dele se imaginava, anunciando durante um café da manhã com jornalistas na Capital, o seu retorno à iniciativa privada. Desculpando-se pelos e erros e creditando os acertos como “obrigação”, o ex-governador não se desfilou do PSDB, entretanto, o que é estranho uma vez que exatamente neste partido ele não encontrava mais qualquer chance de sustentação. Sua agremiação, ao contrário, sequer manteve o compromisso de respeitar as chamadas prévias eleitorais, vencidas por Dória, mas que, desde então, se mostraram incompatíveis com os desejos do ninho tucano. Ao permanecer, portanto, a única explicação é que aguarde do destino o reconhecimento de seu esforço em torno da vacinação, algo tão improvável como irrelevante a esta altura do campeonato. Quando ao segundo, Leite fez uma espécie de turismo político em 2022. Inflado por seus correligionários a disputar o centro das atenções tucanas, provavelmente pela recuperação econômica do Rio Grande do Sul, que até alguns anos agonizava, o ex-governador jamais apresentou uma plataforma factível. Na verdade, sua presença midiática, de uma hora para outra, se deu mais por conta de uma entrevista concedida a Pedro Bial, na qual revelou sua homossexualidade, do que qualquer outra coisa. Ou fato. Como um autêntico mau perdedor, Leite passou a pular de galho em galho colocando-se como alternativa ao Palácio do Planalto. Fez dezenas de reuniões, concedeu outras dezenas de entrevistas, porém, jamais se viabilizou nem como terceira via, tampouco como vice de alguém. Como consolo, anunciou ontem algo que havia rechaçado: sua pré-candidatura à reeleição do governo gaúcho. De fato, política é para profissionais e a paciência, o respeito à fila e a impermanência de desejos pessoais são predicados que não ser desprezados, em qualquer momento.