A região sudeste do Brasil sofre a pior crise hídrica da história. Todos os reservatórios estão minguando, o que resultará em falta de água, racionamento de energia elétrica e aumento do custo, vez que a principal matriz energética do país é hidroelétrica.

Para compreender este fenômeno e atribuir responsabilidades é preciso olhar para a geografia.

Lembremos que a região sudeste do Brasil está localizada no Trópico de Capricórnio, uma linha imaginária localizada na latitude 23° Sul que circunda todo o planeta. Olhando para o mapa do planeta veremos que toda porção de terra que se localiza nesta latitude é caracterizada por clima desértico. A única e exclusiva exceção é no Brasil. No Trópico de Capricórnio temos o deserto da Atacama, no Chile, o deserto da Namíbia, na África e o deserto da Austrália. Só no Brasil que a região localizada nos arredores do Trópico de Capricórnio não é desértica.

A razão desta condição paradisíaca é facilmente explicada pela perfeita combinação de três fatores geográficos e climáticos: os ventos do Atlântico, a cordilheira dos Andes e floresta amazônica.

A floresta amazônica produz um fenômeno chamado evapotranspiração, que consiste na liberação de vapor d’água das árvores para a atmosfera. Estudos botânicos provaram que uma árvore amazônica adulta é capaz de liberar para a atmosfera até mil litros de água num único dia. Este vapor d’água solto na atmosfera é conduzido pelos ventos do atlântico que, advindos do mar, atravessam a floresta continental.

Ocorre que os ventos levariam toda esta água voadora para o oceano pacífico se não fosse a providencial Cordilheira dos Andes. Este extenso paredão natural impõe uma mudança de rota para os ventos e para a água que ele carrega. O formato sinuoso da Cordilheira direciona os ventos para descarregarem as águas amazônicas exatamente na região sudeste brasileira. Este fenômeno, que foi batizado de Rios Aéreos, é o responsável por atribuir à região sudeste do Brasil características inversas às das outras regiões de mesma latitude, ou seja, esta região é a única do planeta que não é desértica.

Ocorre que dos três fatores combinados o único que está sendo drasticamente alterado pela ação humana é a floresta. Vejam a coincidência:  a pior crise hídrica que estamos vivendo vem imediatamente após registrarmos os piores índices de desmatamento da Amazônia. Sintomático não?

Nós, sudestinos, ignoramos os impactos do desmatamento da floresta sobre as nossas vidas e apoiamos (direta ou indiretamente) as políticas governamentais de destruição da floresta e dos únicos povos que promovem a sua preservação, os povos originários. Apoiamos o avanço da pecuária, do agronegócio e da mineração sobre as matas nativas, de maneira irresponsável e inconsequente. Agora, infantilmente reclamamos do custo da energia elétrica, do possível apagão e do vindouro racionamento do consumo de água, como se a culpa não fosse nossa!

Todos nós, uns mais, outros menos, somos os responsáveis pela continuidade deste plano de destruição da Amazônia, patrocinado pelo governo Bolsonaro, e que fará com que as crises hídricas do sudeste sejam cada vez mais frequentes, até que, em caso de não reagirmos, em breve, tornaremos esta região tal e qual suas semelhantes: um deserto!

A culpa é nossa e continuará sendo, até que tomemos uma atitude clara e contundente em defesa da Amazônia!

Ronei Costa Martins Silva, arquiteto urbanista