“Se eu pudesse, gostaria de pedir desculpas para o segurança. Não porque acho que errei, mas porque sei que eles podem perder os empregos. Como vão ficar as famílias dessas pessoas?” diz Luiz Carlos da Silva, sobre o segurança que o abordou e o acusou de esconder produtos embaixo da roupa.

Quem te deve desculpas somos nós, Sr. Luís Carlos, somos todos nós.

Perdão por sermos um povo tão racista, egoísta e cruel.

Perdão por sermos pobres de espírito.

Perdão por julgarmos um ser humano pela cor da sua pele.

Perdão por termos escravizados os seus antepassados, por ter açoitado, amarrado, acorrentado, espancado, estuprado e violentado seu povo depois de retirá-los de suas terras.

Perdão por termos tirado as oportunidades de trabalho que o senhor poderia ter tido se fosse branco.

Perdão por vivermos em um país de desigualdade, ou melhor, de abismo social onde o senhor e a maioria das pessoas da sua cor não podem comprar tudo que querem ou mesmo tudo que precisam em um supermercado.

Perdão por todo o constrangimento que o senhor passou.

Perdão por ter que tirar a camiseta, por ter que tirar as calças e perdão porque, mesmo assim, eles não acreditaram no senhor.

Perdão por terem aparecido tão poucas pessoas empáticas e prontas a lhe estender a mão naquele momento.

Perdão por sua esposa que, por ser diabética, deve ter passado por uma enorme descompensação física e emocional. Foi lindo e emocionante ver sua preocupação com ela em um momento tão delicado.

Perdão por não ter havido nenhuma manifestação popular em sua defesa. O senhor merecia uma carreata, o senhor merecia uma sociedade indignada pedindo por justiça.

Perdão por ter que dar tantas entrevistas e por ter que explicar tantas vezes o que jamais poderia ter ocorrido.

Perdão por tentarem te tirar de cena, por tentarem te esconder para que ninguém visse a injustiça que lhe fizeram.

Perdão por todos os brancos que ainda não entendem que o racismo é um dos mais horrendos capítulos da história.

Perdão por todas as vezes que um branco olhou com ar desconfiado para o senhor.

Perdão por ter que provar sua inocência sem ter feito absolutamente nada. 

Perdão por minhas palavras que hoje estão mal escritas porque o que eu sinto é vergonha de existir em um mundo onde o senhor tem que passar por tamanha injustiça e que se cala, que é omisso, que finge demência diante do que houve com o senhor.

Minha esperança, Sr. Luís Carlos, é que o seu sofrimento tenha levado algum branco a sair de sua zona de conforto e a se colocar no seu lugar por, pelo menos, uma fração de segundos.

Perdão, Sr. Luís Carlos, como limeirense que sou, e hoje envergonhada por sê-lo, eu te peço perdão.

Anseio por justiça ao senhor.

Perdão.