27jul
A frase é o início de uma pergunta feita por um jornalista ao campeão olímpico de surf Ítalo Ferreira que acabara de ganhar a medalha de ouro nas Olimpíadas de Tokio. Ítalo ouve a pergunta e imediatamente desaba em prantos.
A frase que intitula meu texto de hoje ainda soa na minha mente.
“Quando você para e pensa na sua história…”
Ainda bem que quando a gente nasce ninguém conta o que iremos passar, né? Eu, certamente, se previamente informada do que me esperava iria dizer algo do tipo:
“Dá para cancelar?”
Ou:
“Ah, não dá para eu ficar aqui neste plano mesmo, eu pago minhas dívidas espirituais em trabalho voluntário. Posso limpar o chão, fazer o cadastro de quem chega, organizar a fila, sei lá…. “
Sei lá o que se faz na outra dimensão, mas segundo Nosso Lar é tudo como aqui, então deve ter a opção de pagar os pecados sem ter que voltar, ou não.
Às vezes eu acho que aqui é o próprio Umbral ao qual os espíritas se referem com tanta frequência, mas não é sempre. Quando vi Ítalo e Raissa comemorarem suas medalhas com choro ou com dança eu achei aqui um lugar maravilhoso de se viver.
Quando eu nasci Deus já mandou um recado incisivo: “Sua vida vai ser boa, mas tem umas parcelas atrasadas aqui, então já desce pagando!” Me arrancou setenta por cento da capacidade de enxergar já na minha chegada.
“Dá nada não Deusão! Eu me viro!” Eu tenho me virado bem!
Em Mulheres que Correm Com Lobos, um dos livros que vive na minha cabeceira tal qual A Bíblia vive na de muitos, há a história da Mulher Braba, dentre tantas outras com as quais me identifiquei, mas essa parece ter me dado uma vaga ideia de todas as armadilhas que eu e tantas outras “brabas” enfrentamos.
Quando eu paro para olhar para minha história, assim como qualquer ser humano, as emoções que sinto são complexas, intensas, prazerosas, dolorosas; mas ainda melhores do que se não existissem. Acreditem, ainda é melhor lembrar de coisa ruim, de coisa difícil, de coisa que a gente teria feito diferente do que não lembrar!
Não lembrar é covardia – aprendi isso recentemente.
Querer esquecer é sempre uma ilusão, é sempre em vão.
Quando olhar para trás e parar para ver a sua história, orgulhe-se por ter chegado até aqui. Perdoe-se pelo que fez de errado, glorifique o que fez de certo. Comemore as vitórias, aceite as derrotas. Ria dos bons momentos, ria dos momentos ruins também porque não há nada mais a fazer sobre eles. Aceite as saudades que você sente de quem já partiu para outro plano ou partiu da sua vida, valorize quem ainda permanece em ambos. Contemple tudo que você aprendeu e não pare nunca de buscar aprender mais. Conhecimento é tão importante quanto oxigênio. Ignorância mata mais do que falta de ar.
Quando olhar para trás e parar para ver a sua história, lembre-se que a história pertence ao passado e que ele pode ser visitado, mas nunca se deve viver lá.
Quando olhar para trás e parar para ver a sua história, chore como o Ítalo, mas enxugue as lágrimas e volte ao presente, no qual pode não haver uma medalha de ouro no seu pescoço, mas haverá algo do que se orgulhar e pelo que dançar como fez Raissa.
Quando olhar para trás e parar para ver a sua história, carregue seu coração de acalento, de gratidão e de esperança. O futuro que a cada segundo se transforma em presente e que no segundo já se transforma em passado é mais valioso do que qualquer medalha.
A onda que a gente não pega, não volta jamais, entretanto o mar nos oferece muitas delas – todos os dias. Pegue-as!
Um velho amigo, certa vez, olhou para trás. Enxergou pessoas que partiram deste mundo, muitas realizações feias por necessidade, não por prazer, mas ficamos em dúvida quanto a um ponto: e suas conquistas imateriais, se perderão para sempre? Ou, aquilo que lemos, vemos e ouvimos servem apenas de muletas, nada mais? Reflexão proposta e parabéns pelo texto.