Entre o ‘veta-não-veta’ do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ao novo valor do Fundo Eleitoral, o chamado Fundão, de R$ 5,7 bilhões, aprovado na LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) da União, cabe uma reflexão. Meio que senso comum, mas vale a pena tentar entender tamanha cifra, que distribuída, diga-se, desproporcionalmente aos partidos, conforme suas bancadas. E num momento como este, de pandemia, no qual há uma grande massa de desempregados, desalentados e famintos, o descalabro passa dos limites do razoável.
A contemplação dessa vultosa soma, destinada a financiar as campanhas políticas, e a não inclusão de outra, menor, mas de maior importância, é que nos deixa perplexos. No orçamento da União deveriam constar R$ 2 bilhões para o IBGE, para a realização do Censo Demográfico 2020, que baliza os investimentos nas políticas públicas do governo brasileiro. É o saber quem somos, onde estamos, quanto ganhamos e o que fazemos, perguntas determinantes para nortear quais e onde deverão estar as ações governamentais, que beneficiem a população brasileira.
Questões básicas e que dizem respeito a todos, mas que parece não estar preocupando quem de fato tem a responsabilidade. Em especial a classe parlamentar e o jogo de cena com o governo federal. Estamos falando de saúde, educação, segurança, habitação, saneamento básico, investimentos públicos, que dependem das informações captadas nas ruas, bairros, cidades, estados e federação, que só podem ser desenvolvidas se a população for conhecida. E como se conhece e se faz a contagem dessa população? É através de um recenseamento completo, envolvendo todos os rincões do país, que deveria ter sido feito o ano passado e não foi. Falta do dinheiro necessário e do devido interesse do governo Jair Bolsonaro. Não tem mais explicação.
É o Censo Demográfico que vai delimitar o onde e quanto se vai investir, para melhorar o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) da população brasileira e, consequentemente, a melhora de vida. Resolveu-se, porém, primar pelas emendas parlamentares, cortar o orçamento do IBGE e, na aprovação “no escurinho do cinema” – ou seria do Salão Verde – do Fundão. Emendas parlamentares e Fundão são coisas diferentes, porém o ano que vem é ano eleitoral e os candidatos, aqueles que já são parlamentares, vou precisar de emendas eleitorais para seus redutos e do Fundão para suas campanhas.
Com certeza os R$ 2 bilhões para o Censo é muito menos importante que o Fundão e as emendas parlamentares. O Censo vai trazer benefícios ao povo, o Fundão e as emendas garantirão mais quatro anos de mandato para cada um dos senadores e deputados federais. Só para lembrar, o deputado federal por Limeira, Miguel Lombardi (PL), foi um dos que votaram favorável a LDO. Se é contra ou a favor do Fundão, eu pelo menos não sei.