Um dos frequentadores mais antigos do Café do Fernando, responsável por uma coluna de variedades, lamentou bastante, desde a semana passada, o fechamento do estabelecimento previsto para esta quarta-feira, 25. Pudera, ao longo das últimas décadas, ele compartilhou incontáveis momentos ao lado de amigos e conhecidos, a maioria deles atualmente falecidos. Segundo o seu proprietário, um pesado reajuste do valor do aluguel inviabilizou a permanência do negócio, aliás fundado por seu pai, Mário Japonês como era conhecido. Meu pai frequentou o Café do Mário desde o início da década de 1970, ocasião em que passava por lá todas as manhãs por volta das cinco e meia, antes de se deslocar a uma propriedade rural para administrá-la. Neste período o Café do Mário era uma espécie de unanimidade, com peculiaridades que são raridades hoje em dia. O Mário Japonês, atento aos pedidos frequentes de sua clientela, assim que algum conhecido se aproximava de seu balcão de mármore, já preparava o que lhe seria pedido, dos tradicionais pães esquentados na chapa do próprio fogão até os famosos “capilés”, uma mistura de groselha e água com gás. Fernando herdou esse hábito do pai, jamais deixando de servir o delicioso café preparado em coador de pano em pequenas xícaras brancas, com o logotipo da marca. Com o tempo, também, ele incrementou novas opções, como o pastel frito na hora, uma das mais pedidas apesar do cheio de gordura que impregnava na clientela. Quando a política não era essa monotonia de hoje em dia, era no Café do Mário que aconteciam revelações e acordos, o que não à toa lhe rendeu a pecha de “Caldeirão” ou mais recentemente “Senadinho”, algo que nunca mais seria. O ponto, de fato, era mais que um simples cafezinho de esquina; nos áureos tempos, seus frequentadores formavam filas em seu entorno enquanto conversavam, hábito que mais tarde transferiram para os bancos próximos ao ponto de taxi. Eram citricultores, advogados, políticos, jornalistas, corretores de imóveis, bancários, industriais, todos passavam pelo Café do Fernando, que não fazia qualquer distinção de sua clientela, só entristecendo seus frequentadores em períodos de férias coletivas. O seu fechamento, inegavelmente, decreta o fim desses anos dourados, deixando apenas saudades para aqueles que o frequentaram e, para quem teve mais sorte, algumas fotos de recordação. Essa é a Limeira desses tempos estranhos e bicudos, a velha e boa madrasta, atenta apenas aos que chegam, talvez festejando aqueles que vão embora, provisória ou definitivamente. Só falta mesmo alguém apagar as luzes.
Roberto Lucato