Semana cheia de trabalho e de desafios.

Estou ouvindo a sonata de Beethoven desde sábado. Arthur se encantou pelo inevitavelmente encantável: Ludwig, o gênio que não tinha nada a seu favor e que, mesmo assim, foi brilhante. O tipo de trajetória que me encanta. Penso que ele não deve ter envaidecer-se de seu talento, a surdez o desligou do mundo, dos aplausos…

Foi em surdez que eu pensei quando, por algumas horas, o mundo desligou o Instagram. Achei divertido.

“Como não me envaidecer de meu filho?” Perguntei-me ao ouvi-lo já tão jovem tocar tão melhor do que as crianças da idade dele.

A vaidade é o primeiro e o mais grave dos pecados capitais. Conversei sobre isso na quarta com Beto Lucato em minha semanal participação no Farol de Limeira, comandado brilhantemente por ele.

A vaidade – também chamada de soberba ou de orgulho – é o pecado de Lúcifer que por causa dele despencou do céu. Segundo as religiões, vaidade se combate com humildade. Segundo o cristianismo e outras denominações, se o homem é vaidoso ele se afasta do criador. A vaidade impede a caridade. “Vaidade, tudo é vaidade…” pode se ler no Eclesiastes.

Eu prefiro pensar na vaidade à luz da psicologia, o vaidoso que teoricamente possa parecer seguro de si, visto que se acha admirável, não passa de um escravo da adoração dos outros. O vaidoso precisa do aplauso, do reconhecimento, das curtidas, dos “likes”. Precisa ser visto, ovacionado e se possível idolatrado.

Como lidar com a vaidade, já que não conseguiremos jamais extingui-la de nós?

Se à luz das religiões o caminho é a busca da virtuosa humildade, para nós psicólogos o caminho é a tomada de consciência, é o autoconhecimento. Reconhecer a vaidade dentro de você trará luz e reflexão sobre a sua forma de agir, de se comportar.

Bater no peito intitulando-se o humilde é o que, senão vaidade?

A humildade quando alcançada não deve ser mostrada, isso seria pura vaidade…

Ao postar o vídeo do meu filho nas redes sociais executando as primeiras estrofes da Sonata ao Luar aos dez anos de idade eu me envaideci, consciente da pequenez do meu sentimento, mas combati a vaidade com o meu amor, com o infinito amor que sinto por ele.

“Conhece-te a ti mesmo”, é o conselho que decidi seguir e que me faz aceitar-me na complexidade de meus sentimentos e de meu comportamento.

Depender da aprovação do outro, do reconhecimento do mundo é coisa de vaidoso. Vaidade é vazia, mas amor-próprio, autoestima e autocuidado não são.

Vaidade é bem diferente de gostar de si, do que se tem e do que se é…

Ser escravo do ato de mostrar e de mostrar-se é pura vaidade, mas isso é bem diferente de gostar de si, de apreciar suas habilidades, seus talentos ou mesmo os de um filho que aos dez anos já publicou seu primeiro livro e toca piano lindamente.

E quando a vaidade atacar, olhe para os lados e tome consciência de que há muita gente e muita coisa melhor do que você por aí. Para exemplificar estou eu aqui escrevendo-lhes enquanto repousa ao lado do meu notebook um livro de crônicas da espetacular Lygia Fagundes Telles. A edição de capa dura que traz um pouco da primorosa obra dela está aqui a me lembrar que eu não passo de uma escritora medíocre, de uma colunista mediana que, todavia, aqui aparece semanalmente cheia de alegria e de gratidão a lhes escrever meus pitacos, minhas impressões e meu aprendizado nesta minha insignificante, porém única, trajetória.