Muito será dito e escrito nos próximos dias sobre as eleições de domingo. A nova configuração da Câmara Municipal, por exemplo, merecerá um comentário próprio, mas a primeira análise recai sobre o grande “derrotado” do pleito, Mário I. Desde que lançou sua esposa como candidata há dois anos, preterindo nomes que seriam mais viáveis para sucedê-lo agora, o nebuloso alcaide deixou claro não pensar na cidade, mas nele. Betinho Neves, que desbancou sua candidata até com facilidade, claramente era a bola da vez, mas não. Mário I, com dizem alguns, desde cedo “perdeu a mão”. Construiu em torno de si um poder absoluto e imperial a ponto de impor medo àqueles que tentassem confrontá-lo. Ou aconselhá-lo, melhor assim. E não fez isso apenas com o seu entorno administrativo: ele abandonou amigos fiéis e apoiadores como se descartáveis fossem, como se comprovou o contrário neste pleito. Mas um atributo não se pode negar: Mário I tornou-se um estrategista maquiavélico. Primeiro, tentou de todas as maneiras impor a candidatura sucessória a Miguel Lombardi, que não encontrou motivos em trocar sua cômoda posição no Congresso por um papel executivo. Na verdade, o imperador queria mesmo um caminho livre para 2026, quando disputará uma vaga legislativa em Brasília. E assim, ao perceber que a resistência seria definitiva, seu plano B entrou em ação, jogando aos leões sua vice-prefeita. Érika Tank, desde o começou de seu mandato até a virada do semestre, foi sempre mera espectadora do que fazia seu superior. Nunca teve papel decisório, tampouco como conselheira, e jamais conseguiria se impor de maneira crível. No primeiro debate ela deixou claro sua falta de traquejo e durante a campanha, envolvida em estratégias eleitorais ridículas, tentou de todas as formas mostrar uma personalidade forte como caracterizou sua mãe. Palavras ao vento porque falava a um eleitorado que não viveu aqueles tempos, aparecendo então a cartada final: receber as bençãos do ex-presidente Jair Bolsonaro – antes de sua esposa Michele. Poderia dar certo, mas o apoio chegou tarde, e pior: não teve a penetração necessária. Não chegou a tempo aos eleitores já inclinados a Betinho ou Murilo, principalmente aos indecisos. O que sobra ao imperador: tristeza, ressaca eleitoral ou algum arrependimento? Nenhuma dessas alternativas. A vaidade de Mário I jamais admitiria que alguém chegasse ao trono por suas mãos, até porque, tecnicamente, ele não perdeu. Em alguma medida, Érika também não, porque certamente encontrará guarida no escritório político de Miguel Lombardi, aqui ou em Brasília. Até dezembro, e o imperador sabia disso, se aproximará a hora de esvaziar as gavetas, finalizar alguns lobbies e distribuir seus sorrisos sarcásticos aos subordinados. E assim ele voltará à iniciativa privada para concluir as inúmeras obras que, curiosamente, surgiram em seu mandato. O imperador não morreu; apenas recarregará as baterias para 2026.
Roberto Lucato