Sempre que o assunto se relaciona ao consumo de drogas, todos parecem certos e errados ao mesmo tempo. Recentemente, quando o STF definiu em 40 gramas a quantidade que um usuário de maconha pode carregar consigo, para consumo próprio, espernearam-se juristas, delegados, policiais, parlamentares e políticos conservadores. Comemoraram, em sentido oposto, usuários, progressistas e, provavelmente, traficantes. Porém, sabemos que não se trata de algo simples assim. Primeiro, ninguém sabe ao certo o que aconteceria com o Jogo de Bicho se fosse legalizado. Com a maconha, o mesmo, pois não existem estatísticas confiáveis que relacionem a liberalização com a queda ou o aumento de consumo. Ou, que haveria concorrência entre farmácias e biqueiras. O assunto é interminável, e associa-se a este tema o comportamento de um segmento jornalístico que tenta proteger “os jovens inocentes” das comunidades carentes. Normalmente, segundo esse grupo, os mais perseguidos pelos agentes policiais estão aí, enquanto os “riquinhos do Leblon” fazem o que querem sem repressão. Hipocrisias à parte, álcool, tabaco e maconha, viciam. Os dois primeiros produtos alimentam uma poderosa indústria que deposita enormes fatias de dinheiro nos cofres do governo, enquanto o último, sustenta financeiramente uma enorme cadeia de distribuição (incluindo-se produção) e aqueles que conhecemos como chefões do crime organizado. Diferenças técnicas, apenas. Algo que parece certo, porém, é que quanto mais oportunidades, mas haverá o consumo, tanto de cigarros, bebidas e maconha. Durante a semana, em minhas frequentes visitas a lojas de conveniência, uma jovem conversava com dois rapazes. Todos falavam alto e não escondiam nada. Eis que de repente a moça, que estava sendo paquerada, começou a contar sua “expertise” no mundo das drogas. Contou como se faz um cigarro de maconha, desde a trituração das folhas até coloca-las no papel de seda; narrou suas experiências consumindo entorpecentes em quartos de motéis, fazendo a ressalva que tinha receio, apenas, de “dar tiros”, o que presumi ser o consumo de drogas mais pesadas. Descreveu as sensações, também: “É muito louco, é muito bom; a gente se desliga de tudo”. O Dr. Roberto Fosco, psicanalista e amigo de longa data, sempre fazia essa observação: “a droga não é ruim; ela é ótima para quem consome”. E assim terminou a tarde-noite, fazendo-me pensar se as narrativas da jovem agradaram os pretendentes, os estimularam, ou se eles tiveram o bom senso de esquecer o nome e o numero do celular daquela moça. Do contrário, se juntarão às estatísticas, porém, sem o risco de prisão.

Roberto Lucato