Na época em que um conhecido milionário deste sítio arcaico, descoberto pelo frei João das Mercês, tentava se popularizar para iniciar sua carreira política, oferecendo até “tours” em sua aeronave, seu objetivo não se concretizou. Primeiro porque faltava a ele – até hoje – carisma. Nem expressão facial, pelo uso excessivo de botox, o empresário possuía, e falava com os meus botões: – pobre sujeito… se ele chegar por volta das seis da tarde do ponto de ônibus atrás da Catedral, quantas pessoas o reconheceriam? Provavelmente nenhuma, porque existem diferenças gigantescas entre quem constrói uma imagem ao longo de décadas daqueles que forçam a barra. O Brasil, ainda que seja uma nação jovem, deveria se orgulhar mais dos vultos que aqui nasceram e se desenvolveram em diversas áreas. Porque não apresentamos ao mundo “apenas” o melhor jogador do mundo. Tampouco o pai da aviação e outros tantos. Lamentavelmente, porém, vivemos agora uma época do apagar das luzes de personagens de enorme envergadura. Que marcaram o século passado, isso é fato. E, como a existência requer, esses nomes pouco a pouco estão indo embora, como Silvio Santos neste final de semana. E que “Senor” foi esse Abravanel, hein? Que trajetória sensacional. Seu estado de saúde debilitado proporcionou à mídia antecipar-se às reportagens exibidas desde sábado, e quantas peculiaridades foram recordadas. Uma delas, muito curiosa, foi sua “sociedade” com outro gênio, Manoel de Nóbrega. Silvio emprestou a credibilidade do fundador da Praça da Alegria – vejam como “alegria” esteve em tudo em sua vida – para fortalecer a empresa da Nóbrega, à época enganado por um sócio. E assim, Silvio fortaleceria o Baú da Felicidade, na verdade uma maneira de vender mercadorias a prazo antecipadamente. O sucesso como apresentador teve, inegavelmente, a influência de seu talento, da facilidade de comunicação de sua voz marcante. O camelô que ganhava dinheiro no entorno dos Arcos da Lapa levou seus dons para barcaças da travessia Rio-Niterói, e até lá sua visão inovadora surpreendeu: ele distraia os passageiros oferecendo refrigerantes para que concorressem a prêmios, um dom comercial que jamais desapareceu. Vale a pena investigar um pouco mais a vida deste mestre da comunicação e do empreendedorismo, pois sem dúvida Silvio foi muito maior que o seu próprio personagem. E, ensina a vida, devemos aprender e nos inspirar com pessoas diferenciadas, que deixaram em suas pegadas ensinamentos que somente a vivência proporciona. Um último ponto: podemos, sim, acreditar que manter uma existência alegre e animada não se trata de um objetivo infantil ou fugaz. É uma ferramenta que pode nos preencher e suavizar tantos obstáculos que enfrentamos.
Roberto Lucato