Não deu outra. Mal os portais noticiosos confirmaram a volta da tributação no preço da gasolina e do álcool, o Twitter ficou inundado de posts bolsonaristas anunciando as novas medidas com pedidos de “faz o L” para a audiência. Não há dúvidas que, nos próximos meses, qualquer ação politicamente negativa do atual governo receberá o mesmo tratamento, mas alguns fatos me chamaram a atenção durante o tiroteio de comentários. O primeiro, comentado parcialmente no programa de ontem, é que o valor do litro da gasolina favoreceria uma camada mais abastada da população. O experiente comentarista econômico Carlos Sardenberg, que ontem teve que corrigir um artigo publicamente, disse certa vez, ainda no calor das campanhas, que de fato o aumento do valor da gasolina não atinge as camadas mais pobres da população. Ao contrário, segundo ele, subsidiar impostos na gasolina é conceder privilégios a uma camada mais abastada, que possui automóveis. Se não estivesse sentado fazendo meu exercício, sinceramente cairia de boca no chão.

É claro que, do alto do Olimpo jornalístico, é mesmo difícil imaginar, ao contrário daquilo que ele acredita, que os brasileiros não possuem somente carros de luxo, identificando desta forma uma categoria abastada. Que ainda existem Monzas, Chevettes, Del Reys, Fuscas e outros tantos modelos antigos em circulação. E que, entre estes consumidores de gasolina, estão milhares de motoboys que certamente, muitos deles, levaram refeições ao seu apartamento durante a pandemia, época na qual trabalhava dele. Sem contar, obviamente, dos milhares de taxistas e de motoristas de aplicativos, estes últimos, levados a esta ocupação por falta de oportunidades no mercado de trabalho.

Outro fato que me impressionou: a defesa do ministro Fernando Haddad. Dificilmente quando uma medida impopular é divulgada existem aplausos generalizados, o que ocorreu ontem. Porém, esse novo tarifaço poderia ser novamente adiado, e não exatamente por questões políticas. É que em poucas semanas, uma nova diretoria e um novo presidente terão que construir a nova política de preços da Petrobras. Ou seja, não custava aguardar este novo desenho do horizonte para fazer contas e minorar os impactos aos consumidores, repito, nada “privilegiados”.

Porque uma coisa é praticar a política do faz-de-conta implantada por Dilma Rousseff, com subsídios irreais. Outra é discutir composição de preços, tecnicamente falando. Mas isso é só o começo. Para um governo que pretende gastar mais do que arrecada, preparemos os bolsos, agora e sempre.