Durante mais de um ano, todas as sextas-feiras, transportava algumas centenas de exemplares da então Gazeta Litorânea para o Litoral Norte. Inicialmente, parte desses jornais era recepcionada em um ponto determinado em Caraguatatuba; os demais eram entregues em São Sebastião. Portanto, tive tempo suficiente para conhecer um pouco mais este quadrilátero turístico que também agrega Ilhabela e Ubatuba. Para marinheiros de primeira viagem, como era o meu caso, encantar-se com a região não era uma questão de dias, e sim de horas, porque não se trata apenas de uma área com praias belíssimas.
A natureza foi extremamente generosa com um longo trecho costeiro que começa em Boraceia e termina em Picinguaba, todo ele repleto com as mais belas espécies nativas para decorá-lo, em especial o manacá da serra. Porém, à medida em que a frequência das visitas oferecia outros cenários, algo de assustador sempre acompanhava minha imaginação, em especial no entorno de São Sebastião. Pela BR-101 era fácil vislumbrar inúmeras casas incrustradas nas encostas, e, ao contrário do que se pode imaginar, não se tratava de ocupações irregulares, nas quais sabe-se lá como surgem.
Grande parte destas casas era vistosa, com amplas sacadas para a contemplação do mar e, especialmente, de Ilhabela. Pela estrada, mesmo, era possível identificar os caminhos de acesso para essas moradias, sempre íngremes cortando uma densa vegetação, mas um detalhe é importante ressaltar. Dado à exuberância natural, esses municípios sempre construíram rigorosos arcabouços legais a favor da preservação do meio-ambiente. Portanto, esta tragédia que ocorreu em pleno carnaval, época de grande fluxo de turistas, me parece mais relacionada a um fenômeno climático de enormes proporções do que negligência de seus administradores.
E o agravante, no Litoral Norte, é que existem inúmeros trechos nos quais as montanhas, literalmente, colocam seus pés da areia, ou seja, nas grandes precipitações, as rotas de saída de água não são suficientes para normalizar uma situação. Particularmente, a divulgação do número de vítimas, oferecida esta manhã, me causou enorme tristeza. Em paralelo, os registros da destruição deste pequeno santuário, no qual o turismo é a sua principal atividade. Uma fatalidade que abate uma região, vale lembrar, com pouca infraestrutura, o que interfere no atendimento das vítimas e, no futuro, na reconstrução de sua malha viária e bolsões habitacionais. Lamentável que o chamado “final da temporada” tenha sido marcado por este gigantesco desastre.