Os pais têm a sagrada missão de ensinar regras de convivência, proteção e sobrevivência aos seus filhos. Só assim eles não tomarão choques ao enfiarem seus dedos nas tomadas ou quebrarão alguma parte do corpo se jogando das escadas. Mas nem tudo dá certo, convenhamos. Algumas experiências que não fazem parte deste roteiro de aprendizado são esquecidas e os mais jovens acabam aprendendo tomando seus próprios tombos e sustos.
Porém, na medida em que se tornam adolescentes e entram na fase da contestação, muitas experimentações erradas são terceirizadas, digamos. Muito porque assumir a culpa nestas situações é encarada como um sinal de fraqueza, ou digamos, de inferioridade, e definitivamente ninguém gosta se se sentir assim.
Aí entra o tal “errar é humano, persistir no erro é burrice”, jargão que não foi criado à toa, em decorrência outro componente interessante: a culpa. Sempre devemos ter em mente que, em regra, ninguém acorda com a disposição de errar, de não acertar propositalmente, e os acidentes de trânsito são bons exemplos disso. É improvável que uma “barbeiragem” ocorra por vontade do motorista, mas por sua distração ao executar uma manobra. Mesmo assim, quem provocou a batida sempre ensaiará uma desculpa para relativizar o dano para justificar o ocorrido.
Crianças que foram excessivamente castigadas por suas falhas crescerão colocando a culpa nos outros o resto da vida, e assim o farão na fase adulta. Pois da construção deste enredo nascerá uma experiência de verdade paralela, ou seja, no mínimo o julgador daquele ato ficará em dúvida sobre quem de fato, está certo ou errado. Entretanto, não apenas nos acidentes de trânsito estão extes exemplos.
Na política isso é mais comum ainda, pois os seus agentes, todos e nenhum em particular, são especialistas em transferir desacertos. Parecem ser treinados para apontar o dedo para antecessores colocando-os em um banco dos réus sem qualquer sentido prático. Isso cria um ambiente tóxico exatamente pela confusão que estabelece, porque as verdades passam a ser segmentadas e em alguns casos seletivas ao extremo. Nestes quase dois meses de nova administração federal, só se fala em povos originários e taxa de juros, enquanto o presidente segue com suas quase obsessão em criminalizar o seu antecessor.
Não há um discurso, uma manifestação sua em que não se refira a Jair Bolsonaro como genocida, quando não volta a chamar de golpe o impeachment de Dilma Rousseff. Acho que o PT deveria reeditar o slogan “deixa o homem trabalhar” reapresentá-lo ao presidente. Lula deve agir como estadista, e saber que não foi obrigado concorrer a cargo de líder máximo de uma nação. Portanto, deve cumprir o seu papel e olhar para a frente, é o que dele se espera.