Faz pouco mais de trinta anos, depois de conhecer a estrutura de um jornal em Araçatuba, montei o que classificaria como “Central de Publicidade”. A ideia principal era reunir, em um único espaço, profissionais especializados na montagem e comercialização de anúncios. Vale lembrar, estou me referindo a uma época em que a mídia era totalmente segmentada, ou seja, cada meio possuía a sua própria linguagem. No caso impresso, os vendedores tinham que possuir habilidades não só criativas, mas reunir elementos disponíveis como ilustrações, fotos e tipos de fontes diferentes.
Até a aplicação de letras nas chamadas artes-finais era uma exigência e tanto, por isso a necessidade daquela estrutura, que foi montada na rua Cunha Bastos, a pouco mais de duas quadras da praça Adão Duarte, onde já capengava o antigo Cine Palmeiras. O imóvel não era exatamente dos sonhos: possuía uma recepção, duas salas, um banheiro e uma pequena cozinha, além de uma garagem feita para guardar bicicletas, não automóveis.
O prédio era de esquina e em frente havia um bar, no qual buscávamos água e refrigerantes eventualmente, comandado por Irineu Scavarielo, de quem seria amigo desde então. E, à medida que o tempo passava, descobri mais algumas curiosidades. Uma, que sua esposa, a Dona Lurdes, temperava frangos como ninguém, e passei a ser um assíduo cliente aos domingos, quando eram assados. A outra, que no Bar do Neu, as chamadas profissionais do sexo não eram bem-vindas, exatamente pelo caráter familiar do estabelecimento. Ele não deixava de atender, mas não permitia que qualquer moça fizesse ponto na esquina ou se sentasse em uma das duas mesas que havia no local. Naquele tempo, me lembro bem, já havia uma pressão popular para a desativação das chamadas casas de tolerância, que se concentravam em duas quadras, na verdade. Isso não apenas jamais aconteceu como, há duas décadas, as garotas de programa expandiram suas áreas de atuação, vindo a se concentrar na praça Luciano Esteves.
O Ceprosom, naquele tempo, tentou fazer um mapeamento educativo, mas nada de concreto aconteceu. No último sábado, no finalzinho da tarde, em um horário improvável de estar, desci a Cunha Bastos no sentido Casa da Laranja, e me surpreendi, pois o trecho inteiro estava tomado por essas garotas, perambulando de um lado ao outro da rua. O tempo passou, a Central de Publicidade não existe mais, entraram e saíram várias autoridades públicas, e se existe uma atividade que resiste ao tempo, é essa.
Sinal também que nossa cidade, em alguns aspectos, parece não querer mudar.