Segue a contabilidade eleitoral dos “analistas”, os mesmos que fundamentaram seus comentários nas pesquisas de primeiro turno. Mais uma vez, o “peso” dos apoiadores é aferido mais de acordo com quem os recebe do quem lhes oferece. Para exemplificar, dois casos relativos ao “tucanato”, do partido que o ex-governador João Dória implodiu este ano. Uma jornalista afoita, tão logo o senador José Serra anunciou que votaria no ex-presidente Lula, observou que tratava de um apoio “relevante”. Imediatamente perguntei a mim mesmo: como assim, o José Serra não conseguiu se eleger a deputado federal, que espécie de relevo é esse? Na mesma linha, a declaração do ex-presidente FHC, que chegou a postar em suas mídias uma foto na qual aparecia bem mais moço ao lado de Lula “lutando pela democracia”.

Outra pergunta surgiu: um eleitor comum – não os economistas de Fernando Henrique, claro – seria convencido por sua declaração, em nome da “democracia e da inclusão social? O Auxílio Brasil o que é, se não um pagamento que vem desde a unificação dos benefícios sociais que começaram no governo FHC, passaram pelas mãos de Lula, Dilma, Temer, e agora continuam com novo nome e valor? Porém, quanto à questão da “defesa da democracia”, isso me parece um assunto de maior complexidade, ainda que não desperte maior debate por grupos que não pertençam às classes mais intelectualizadas. O presidente Jair Bolsonaro, por conta de suas manifestações contrárias e mais acentuadas principalmente dirigidas a Suprema Corte, tem sido repelido por diversos segmentos por representar “ameaça ao sistema”.

Ponto alto, inclusive, das manifestações de 11 de Agosto, quando uma carta à favor da democracia foi lida nas arcadas do Largo de São Francisco. A questão é saber se, de fato, esteve em andamento um plano de ruptura institucional ou se, pela primeira vez em nossa história recente, a conflagração de forças entre os poderes foi exposta tão publicamente como nos últimos anos. Incluindo a desconfiança do processo eleitoral, o fato e que esses embates não apenas são possíveis como, em alguma medida, podem ter contribuído para que o “establishment” do Poder Judiciário fique menos confortável com suas decisões. Por exemplo, em anular sentenças da operação Lava Jato, que conseguiu devolver alguns bilhões de Reais aos cofres públicos.

Claro, levar convites ao Supremo através de tanques de combate, fumegantes, aliás, causa muita inquietação, mas até agora, de concreto, nada surgiu além de da troca de farpas; a democracia, talvez como em nenhuma época, tem se mostrado madura e resistente em nosso país. E esta sim, tem a preferência total dos eleitores.