Na semana passada, durante tradicional “live” exibida as quintas-feiras, o presidente Jair Bolsonaro dedicou boa parte de seu pronunciamento atacando a Petrobrás. Não poupou críticas, em especial, aos gestores da companhia, sugerindo que pessoas que ganham tão bem deveriam encontrar uma solução para estancar a sangria dos combustíveis.
O “fogo amigo” foi disparado depois do anúncio de mais um recorde de lucratividade, e consequente distribuição de dividendos aos acionistas. A resposta da petroleira a todas essas críticas e apelos, ao mercado e ao presidente em especial, foi dada ontem em forma de reajuste do diesel, uma alta expressiva, de quase 10%.
Como sempre, a justificativa repousou no realinhamento de preços face ao mercado internacional, mas desta vez há motivos que indicam movimentos outros, que começaram exatamente no reajuste anterior, que praticamente equiparou o diesel a gasolina, algo incomum nas últimas décadas. Naquela ocasião, as críticas não vieram do presidente, mas dos analistas econômicos, que estranhavam aquele longo período sem aumento de preços. Em função do recém declarado confronto entre Rússia e Ucrânia, as oscilações do câmbio e da cotação do barril de petróleo foram usadas pela Petrobrás para justificar a cautela. Porém, bastou o governo enviar a toque de caixa um projeto para realinhar o ICMS cobrado nos combustíveis, Luna e Silva, como último ato de sua administração, autorizou aquela pancada de quase 20% no bolso dos brasileiros. Isso agora se repete.
O tom quase ameaçador de Bolsonaro, que pretendeu imputar à companhia uma espécie de insensibilidade “social” diante de uma situação atípica, foi respondido, mais uma vez, com aumento, desta vez dirigido para a categoria mais sensível ao presidente: dos caminhoneiros.
Os reflexos são previsíveis: companhias de ônibus ameaçaram paralisar suas atividades e mais uma vez haverá pressão nos itens de supermercados. Se estiver mesmo agindo com o fígado, e não com os números, a Petrobrás só reitera o que realmente foi nos últimos anos, uma casa da mãe Joana, que não pode ser maior que o próprio país.