20/01/2022

Ninguém precisaria ter uma bola de cristal para adivinhar como seriam as primeiras reportagens sobre a vacinação de crianças contra a Covid-19 especialmente por abarcar, em sua fase inicial, aquelas que reúnem maiores chances de contaminação; os relatos foram absolutamente emocionantes. Afinal, qual mãe não contava os dias para que isso acontecesse? Neste ponto, a intenção do governo federal em retardar o início na imunização para, neste intervalo, despejar um caminhão de dúvidas na opinião pública, só se demonstrou incipiente e desnecessária. Entretanto, também como era de se esperar, uma guerra de narrativas corre em paralelo, com possibilidade que se intensifique. A mais recente teve sequência no início da noite de ontem quando, de supetão, o presidente Jair Bolsonaro apareceu durante um noticiário de um canal “amigo” para ser entrevistado. O motivo? Falar, entre outros assuntos, sobre um despacho assinado pelo ministro do STF Ricardo Lewandowski, que abriu prazo de 48 horas “para que Estados e o Distrito Federal expliquem supostas irregularidades na vacinação de crianças e adolescentes”. A medida foi adotada após a AGU (Advocacia Geral da União) informar à Corte que teria detectado supostas aplicações incorretas de vacinas no público Infanto-juvenil, como o ocorrido em Lucena, na Paraíba, quando imunizantes indicados para adultos, da Pfizer, teriam sido aplicados em adolescentes. O presidente queria demonstrar, com todas as letras, como seu governo é cuidadoso com as crianças e certamente usará, a partir de agora, qualquer fato negativo para justificar o atraso da campanha infantil. Como, por exemplo, foi identificado ontem em Lençóis Paulista, município que suspendeu a vacinação em crianças depois da ocorrência de suposto caso de reação adversa. E, aqui, incluem-se vídeos de todos os tipos, como aquele identificando a mãe de uma criança portadora de necessidades especiais se indignando ao ter que assinar um termo se responsabilizando por possíveis efeitos colaterais. Neste desabafo, ela disse que não era médica, nem cientista, “como poderia assumir isso”, perguntou? Este “mais do mesmo” seguirá nos próximos dias, demonstrando que este método de provocar polêmicas e, como se dizia antigamente, de dar um tapa e esconder a mão, seguirá firme no interior do Palácio do Planalto, a despeito de estarmos em ano eleitoral e, o mesmo, indicar nuvens carregadas pela frente. Em outras palavras, o governo segue conversando apenas com quem lhe interessa, em busca de uma sobrevida até o segundo turno.