03/12/2021
A semana termina com episódios repletos de luminosidade. No primeiro deles, a filiação do presidente Jair Bolsonaro no PL, partido que recepcionará sua candidatura em 2022. Até ai, a maior novidade foi que o evento aconteceu, para delírio daqueles que se aproximaram da máquina pública e quem a controla. No segundo, a aprovação do nome do “terrivelmente evangélico” André Mendonça para uma vaga no Supremo Tribunal Federal, após uma quarentena absurda imposta pelo presidente da Comissão e Justiça do Sendo, Davi Alcolumbre. Mas houve um terceiro, mais discreto, que promete ser recorrente nas próximas semanas ou meses: o fortalecimento da candidatura de Sergio Moro por algumas razões por enquanto especulativas. Demonstrando ter aproveitado o período sabático entre sua saída do ministério da Justiça até sua filiação ao Podemos, e aproveitado para melhorar seu desempenho de interlocução, Moro nem de longe se parece, atualmente, com aquele juiz discreto e avesso a entrevistas dos tempos de Lava Jato. É verdade, juízes não devem, mesmo, serem seduzidos pelos holofotes na imprensa, raciocínio do qual os ministros do STF devem discordar, mas o antigo magistrado tem demonstrado uma impressionante desenvoltura na abordagem de temas não relativos à corrupção, sua principal bandeira. Falar de flagelos sociais, citar famintos e desempregados, soa às vezes falso quando verbalizado por pessoas distantes desta realidade. O ministro Paulo Guedes, por exemplo, não foi mal compreendido quando falou que até empregadas domésticas estavam indo para a Disney. E Moro, cá entre nós, ainda não pode ser considerado um conhecedor do Brasil, de pessoas que sobrevivem do subemprego. Daqueles que são assombrados pelo fantasma de uma demissão, da atuação de milicianos ou dos agiotas. Inegavelmente, ele se especializou nos chamados crimes de colarinho branco, examinando processos e punindo – esse foi o seu grande diferencial – parte de nossa elite política e empresarial, mas esse predicado não é o interesse imediato do eleitor. O Brasil está se livrando dos efeitos de uma pandemia e a agenda nacional requer outras urgências. Em certa medida, esta construção segue em andamento. Candidatos já se elegeram caçando marajás, é bom lembrar, mas Sergio Moro terá que construir uma identidade superior a sua própria imagem pública. Por enquanto alguns efeitos estão visíveis: seguem adesões empresariais e políticas, além da expectativa de que possa, somente por este aspecto, incluir um complicador na cabeça dos eleitores. Pensar nos faz bem!