O título do meu texto de hoje atreve-se a traduzir a série mais vista de todos os tempos, segundo alguns veículos da mídia.
Um tsunami de indignação, memes, matérias e opiniões invadiu a internet. Só se fala em “round 6”.
Não demorou muito para que eu recebesse várias perguntas sobre a série, inclusive “seu eu acho” que é indicada ou não para crianças. A indicação é clara: 16 anos, entretanto há questionamentos constantes a nós especialistas sobre o que os pais devem ou não permitir que os filhos de dez, doze ou catorze anos assistam.
No meu tempo (acho hilário escrever esta expressão) não era tão diferente assim. Recordo-me de um filme que causou o mesmo rebuliço: Christiane F – drogada e prostituída. A regra era quase a mesma, crianças e adolescentes não podiam assistir. Foi o que disseram porque a verdade é que os exemplares do livro e as fitas VHS piratas circulavam entre nós. Quem conseguisse uma vaga no videocassete da família já sabia até quais eram os trechos que realmente nos interessavam assistir.
Em casa minha mãe alugou para que ela e meu pai assistissem e fez o maior alarde sobre isso, expressando seu horror e repugnância ao filme enquanto falava o tempo todo no assunto com a prima dela com quem convivíamos quase que semanalmente. Foi o bastante para aguçar a minha curiosidade. Não consegui sequestrar a fita, mas sempre fui boa leitora e não foi nada difícil emprestar um livro e ler um pouco da “vida, louca vida” da protagonista. Na época achei nada de mais, li e toquei minha vida. O importante era não ficar por fora do assunto. Nunca usei drogas, mas não porque fui proibida e sim porque sempre achei que seria uma péssima escolha.
Quando vejo esse monte de gente indignada gritando nas redes sociais que não se deve deixar os filhos assistirem à tal série, duas coisas me veem à mente. A primeira é o golpe de mestre da produtora que deve estar lotando os bolsos de dinheiro diante de tanta propaganda, a segunda são crianças que estavam felizes da vida assistindo aos animes até serem apresentados pelos próprios pais à série (risos).
Eu sempre fui curiosa e nada era mais motivador para mim do que algo que teoricamente me diziam ser proibido. Crianças são assim. Diga que não pode e elas lhes questionarão o porquê. Se não querem que uma criança faça algo, não apontem os holofotes para aquilo.
Diga para que coloquem o casaco e elas farão o contrário. Diga que calcem os chinelos e eles desfilarão descalços pelo chão frio.
De nada adianta discursar que eles não devem assistir à serie quando as plataformas estão a um toque no controle remoto ou na tela do celular. Penso ser mais adequado conversar sobre o enredo, mostrar algumas cenas, esclarecer que há cenas inadequadas, mas tentar mantê-los ignorantes quando só se fala nisso na escola não irá funcionar.
Ninguém gosta de estar por fora do assunto do momento. Nenhuma criança, seja na faixa dos sete ou dos dez anos quer ficar alienada sobre o que seus colegas estão falando.
Há uma discrepância muito grande entre as permissões. Existem pais que liberam o TikTok e o Instagram e outros que nem o celular dão, então é importante que cada pai e cada mãe esteja atento diante das escolhas que fez sobre a educação de seus filhos para que eles não se tornem os curiosos que irão (e acreditem, irão mesmo) dar um jeito de assistir à cena da “batatinha frita 1, 2, 3…” só porque foram proibidos sem nenhuma explicação.
Mas então, qual é a sugestão?
Sugiro que avaliem a faixa etária de cada criança, que conversem com cada um de acordo com a idade e que mostrem outras possibilidades de entretenimento. Sugiro ainda que respondam a todas as perguntas que vierem sobre o assunto, que ouçam e que se mostrem sempre disponíveis e acessíveis ao diálogo.
A moda não deve durar tanto tempo, daqui a pouco uma nova polêmica virá e lá iremos nós pais e psicólogos administrar mais uma “momo”, mais uma “brincadeira da baleia azul” ou mais uma “round 6”.
Educar dá trabalho.