Calma!

Muita calma minha gente!

Não adianta querer construir nada em cima de tanta destruição.

O que foi que deu nesse povo apressado que acha que se conserta o mundo em poucos dias? Nós são somos Deus! Até para endireitar os dentes leva-se anos.

Com grande parte da população vacinada e a possibilidade de afrouxar um pouco a conduta diante do vírus, muita gente desenfreada está a correr como se o mundo fosse acabar amanhã.
Não vai.

O mundo não acaba de forma literal, ele acabou em março de 2020, mas já está aí neste novo formato ainda mascarado e envolto em álcool gel, porém, vacinado.

Aos poucos, como quase tudo na vida, vamos retomar a caminhada, mas antes disso, é preciso se dedicar ao indispensável e primordial trabalho de recolher o entulho, de limpar os escombros, de avaliar e consertar os estragos feitos pela guerra biológica.

Ainda estamos enterrando nossos mortos, ainda estamos estendendo as mãos aos mais atingidos, ainda estamos sacudindo a poeira das nossas calças, cheios de esperança sim, mas ainda bastante fragilizados.

Estamos olhando para as escoriações que recaíram sobre nossas crianças, sobre nossos jovens, sobre nossos idosos e sobre nós. Alguns conseguiram manter alguma saúde física, todavia a saúde mental de todos nós foi profundamente atingida.

Ninguém, absolutamente ninguém saiu ileso.

Precisamos cuidar de nós.

Tudo mudou e mudou para sempre.

Ainda temos que aprimorar nossas armas (as vacinas), manter o uso da nossa armadura (a máscara), ainda temos que treinar nosso corpo (o sistema imunológico, principalmente) e precisamos entender que todos os males que emergiram, vieram para o nosso bem.

Se temos que reconstruir este mundo – e temos – não será sem antes limpar a área. Não há casa bem construída sem antes desobstruir e nivelar o terreno, só então se constrói um alicerce forte e capaz de suportar o que será o nosso novo lar.

É um novo tempo, um tempo que nasce a cada dia, que traz luz, esperança, fé e a necessidade de olharmos para o que é mais importante.

Vejo e acompanho muita gente que lutou bravamente nesta guerra e que agora, diante de um respiro de calmaria, desabou tal qual quem salva a todos de um acidente e então, depois de todos seguros, cai desmaiado no chão.

De nada adianta correr, de nada resolve querer fazer tudo que não deu para ser feito no último ano.

UTIs não mais lotadas são nossa maior vitória. 

Escolas abertas e prontas para ouvir e acolher nossas crianças são mais importantes do que exigir delas resultados rápidos na recuperação do atraso que algumas possam estar apresentando. Crianças aprendem, este segundo semestre as trará de volta aos trilhos do conhecimento. São crianças marcadas pela pandemia, são adolescentes e jovens que contarão às gerações futuras o que aconteceu com o mundo e que precisam se preparar para serem os médicos, os advogados, os engenheiros, os professores de amanhã.

A meta era sobreviver e infelizmente alguns de nós não conseguiram.

A meta agora é retirar o entulho do mundo e de dentro de nós, é seguir e continuar a escrever a história neste planeta sabendo que ela é infinitamente maior do que a história de cada um de nós.

A meta é olhar com menos egoísmo, com menos egocentrismo, com menos preconceito, com menos fanatismo e com menos ódio para tudo que nos rodeia.

Sigamos, um dia depois de outro dia.

Cuidemos de nós e dos que nos cercam.

Busquemos o amor que pulsa dentro de nós para que ele nos motive a sermos mais generosos.

Que possamos fazer escolhas que não beneficiem somente a nós, que possamos estender a mão não somente a quem amamos.

Um dia após o outro e uma noite de descanso entre cada um deles.

Força, coragem, está passando…