Por muitas eleições a partir do início da década de 1980 até meados de 1990 participei das mesas receptoras eleitorais, ainda quando o pleito acontecia sempre no dia 15 de novembro. O dia da semana não importava. Entre o folclore de eleitores que pediam sugestão de voto para nós, que estávamos entregando as cédulas em papel, assinando os títulos, que continham espaços para cada eleição e abrindo e fechando a urna, onde cada um depositava seu volto, inúmeras situações pelas quais passávamos nos divertia e fazia o dia passar mais rápido. E de tempos em tempos fiscais de partidos passavam recolhendo santinhos, que por ventura teriam sido deixados por eleitores na cabine de votação.


O eleitor, por sua vez, tinha que escrever o nome do candidato ou o seu número. Coisa difícil de imaginar nos dias de hoje.
O tempo passou, por força da profissão, para exercê-la na plenitude durante o período eleitoral, deixei de trabalhar nas mesas para cobertura ou comentário dos pleitos seguintes. Só para lembrar, as cédulas eram contadas e conferidas nas juntas apuradoras, também convocadas pela Justiça Eleitoral, e contado voto a voto, para colocar os resultados numa planilha à disposição pública dos partidos e candidatos. Em Limeira, essa junta, invariavelmente, ficava nos salões do Nosso Clube.
Vieram as urnas eleitorais eletrônicas, que foram um avanço tecnológico e uma forma de facilitar e deixar a apuração mais ágil e, desde então, as eleições foram se sucedendo desde que elas foram, definitivamente, adotadas em todo o país. Houve um período de teste em vários municípios e estados. Tal qual a biometria eleitoral nos dias de hoje. Tudo isso começou lá em 1985 com os cadastros eletrônicos e, implantado definitivamente a partir das eleições de 1996.


De lá para cá, mais de duas décadas depois, muitos políticos foram eleitos e reeleitos sem problemas ou confrontos com a existência de fraudes. O hoje presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que foi eleito através do voto eletrônico e teve vários mandatos como deputado da mesma forma, agora se insurge contra elas, pedindo voto impresso auditável.  Isso, para quem conhece o sistema eletrônico, é mera bravata para justificar uma derrota – cada vez mais iminente – pois a urna já possui um sistema de impressão final dos votos em lista, assim que se encerra o prazo final de votação. Isso sem contar com a auditoria inicial, na qual é impressa uma primeira lista, a “zerésima”, que mostra a urna sem qualquer voto. E, durante toda a votação, ela não é conectada a nenhum sistema em rede.


O que quer, então, o presidente? Não é o voto em papel, como muitos imaginam, voltando à idade do preenchimento da cédula e colocando-a na urna. Pela PEC (Proposta de Emenda Constitucional), o que ele quer é mais ou menos semelhante às juntas apuradoras, ou seja, cada eleitor que vota, recebe seu voto impresso, colocando-o numa urna, que será confrontada posteriormente com a apuração eletrônica. Esse é voto em papel e auditável, do qual tanto fala Bolsonaro, inflama suas bases a ponto de promover manifestações nesse sentido. Como as que ocorreram no último domingo, dia 1º.


É uma afronta à nossa inteligência e à segurança das eleições. É uma afronta à nossa própria democracia, apenas para justificar o injustificável. Uma possível e bastante provável em 2022, como escrevi anteriormente.


Só há um pequeno senão, porém de gravidade inimaginável nisso tudo. O voto impresso nas urnas eletrônicas e colocados na urna paralela para a auditoria vão acabar com o direito ao voto secreto. Ou seja, vai mostrar em que candidato o eleitor votou. E, aí sim, haverá maior facilidade às fraudes e a compra de votos. O eleitor vai ter como provar, e com documento, em quem ele votou.


É isso que querem Bolsonaro e seus seguidores mais fiéis? Se for, demonstra segundas intenções gravíssimas e o retorno ao chamado voto de cabresto. Por falar em cabresto…