Com a notícia de que o Ministério da Saúde enviou uma nota técnica à CPI da Pandemia no Senado, onde descarta o tratamento precoce com o chamado “kit covid” e admite sua ineficácia no combate ao vírus, precisamos conversar seriamente sobre a forma como o governo municipal tem feito uso irrestrito desses medicamentos. À comissão, a pasta respondeu que alguns medicamentos foram testados, mas não mostraram benefícios nos pacientes, não devendo assim ser utilizados por falta de evidência científica.

Desde março, venho publicando em meu Blog do Ogro a questão envolvendo a forma como a Prefeitura de Limeira tem sistematicamente pulverizado medicamentos para o tratamento precoce contra a Covid-19, adquirindo milhares de Ivermectinas e Azitromicinas, gastando quase R$ 1 milhão com isso, além de ser uma das únicas cidades do Estado que recebeu dois carregamentos com quase 40 mil Cloroquinas do governo federal.

Sabe também que a situação do tratamento precoce aqui é tão bem montada que até o gabinete do prefeito Mário Botion faz uso de remédio contra vermes e parasitas para tratar o vírus. Com aval e estímulo do secretário de Saúde, aquele que não vê evidência científica no lockdown.

E soube também dos casos envolvendo o receituário-padrão aplicado no Ambulatório Referência Coronavírus (ARC), onde qualquer paciente, mesmo com leves sintomas, recebe os medicamentos para tratamento, mesmo sem ter sequer sido testado ou diagnosticado com a doença. Chegou, tossiu, levou!

E mesmo com tudo isso, o avanço da doença em Limeira foi assustador este ano. No feriado de 9 de julho, Limeira ultrapassou a histórica marca de mil mortes em decorrência da Covid-19. Chegamos a 503 óbitos em 354 dias, mas bastaram apenas 100 dias para praticamente dobrar esse número.

Hoje, são 1033 óbitos e mais de 43 mil casos confirmados desde o início da pandemia na cidade. Após alguns dias de suspiro, a Unidade de Referência Coronavírus (URC) voltou a ficar com 100% dos leitos de UTI ocupados. Ficou com toda sua capacidade lotada por quase 40 dias.

Por conta desse lamentável aporte a um tratamento ineficaz, muitos deixam de se vacinar por conta de crenças cada vez mais estimuladas de que esses medicamentos inibem o contágio ou mesmo que a vacina causará a morte de quem tomou, desinformação que não é repreendida com ênfase nos discursos do legislativo, por exemplo. Pelo contrário: são estimulados a continuar o tratamento precoce, sob alegação de que “mal não faz”, como já disse o presidente da Câmara, Sidney Pascotto.

Questionamentos

Se antes eu estava navegando sozinho aqui nas cobranças e nos levantamentos, agora a prefeitura será obrigada a se manifestar oficialmente sobre todo esse procedimento adotado: em junho, a vereadora Isabelly Carvalho apresentou dois requerimentos questionando justamente sobre os gastos e protocolos envolvendo o tratamento precoce na cidade. Se a Comissão de Saúde fez vista grossa para isso, felizmente uma parlamentar refinou o olhar sobre a questão.

No primeiro documento, a parlamentar indaga se a Secretaria Municipal de Saúde implantou o protocolo de tratamento precoce com o chamado “kit Covid” e qual o embasamento técnico que autoriza a distribuição de medicamentos sem eficácia e comprovação científica, como Hidroxicloroquina, Ivermectina e Azitromicina, para o combate da doença. Questiona ainda o motivo de a Prefeitura não ter feito campanha para conscientizar a população limeirense sobre os riscos da adoção do tratamento precoce.

No segundo requerimento, aborda sobre os gastos, quanto foi gasto na compra de Cloroquina, Hidroxicloroquina, Ivermectina e Azitromicina, solicitando cópia do processo licitatório completo e das notas fiscais pagas às empresas ganhadoras. Pede ainda o valor repassado pelo governo federal para compra desses medicamentos.

Abaixo é o meu levantamento feito ao longo dos meses de atividade do blog. Vamos confrontar quando a resposta chegar.

(Foto: Reprodução / Prefeitura de Limeira)