29jun

Na verdade, quero começar contando-lhes que, até mesmo o que você não precisa saber há de chegar aos seus ouvidos.

Quando se é jovem, há de se querer saber tudo; como se o mundo estivesse sob nosso domínio. Jovens são todos repórteres sensacionalistas e ser o último a saber sobre o que falaram ou fizeram é a morte social. Mas quando vem a maturidade, seria tão melhor desconhecer o que nossos sentidos não captaram.

Sábios eram os que diziam que, de fato, o que os olhos não veem o coração não sente; entretanto, não há quem sobreviva sem saber o que falam de ti pelas costas e o pior é que na maioria das vezes o que falam te surpreende pelo inesperado conteúdo.

O que fazer? Nada!

Quase ninguém é o que você pensa ser, e consequentemente não age como você imagina.

Ao se deparar com o susto e com a imensa discrepância entre o que o outro é e o que você pensou que fosse há apenas uma lição a aprender: foi você quem colocou expectativas demais, esperanças demais e que confundiu demais o que é seu com o que é daquele outro. Decepções são somente a descoberta do que é e a comparação disto com o que você achou que fosse.

Enxergamos através das nossas lentes emocionais e experienciais e por isso, quase tudo do que enxergamos é a projeção de como vemos o mundo. Cometemos um grande erro ao esquecermo-nos de que o outro, a todo instante se mostra, denuncia a si mesmo em pequenos gestos e em palavras que, o tempo, todo o condenam sobre seu caráter e sobre a forma desrespeitosa de agir.

Não. Não culpe o outro pelo que ele é e pela forma como age. Apenas aprenda a oxigenar sua mente e a desembaçar seus óculos.

Mesmo que a maturidade nos mostre que seria melhor não sabermos de certas verdades porque elas não nos servem para nada, o fato é que estas verdades estavam ali o tempo todo e que só agora você as enxergou – porque era o momento e porque você tem repertório para lidar com tudo isso. Por pior que se apresente uma verdade e por mais desnecessária que ela seja, ela não fala de você, ela fala do outro, como disse Freud em um de seus discursos.

Não há absolutamente nada a fazer quando nos decepcionamos ao descobrir o que outros pensam, como se referem e o que falam a nosso respeito a não ser aprender que sai de dentro de cada um apenas o que ele tem e que existe grande número de pessoas perdidas em seu autoconceito utilizando-se de outras pessoas para se autoafirmar. É apenas um processo no qual fomos colocados por engano. Aquilo não somos nós, aquilo é o outro.

O agressor na imensa maioria das vezes foi agredido.

O homem que desrespeita foi e talvez ainda seja o homem desrespeitado.

A mulher incapaz de amar quase sempre foi uma menina nunca amada.

Receber afeto é coisa rara, dar então, nem lhes conto…

O que o outro fala vale nada. É só o que ele pensa, é só o que ele enxerga, é só o que ele pode oferecer. É só a manifestação de um caráter podre que está assim por ter sido malformado. Há muita gente solta por aí que não aprendeu nada sobre respeito simplesmente porque nunca foi sequer respeitado.

A dignidade, o respeito, a consideração, a gratidão são palavras muito em alta como conceito, mas ainda pouco acessível à grande maioria.

Lição que fica? Criemos meninos e meninas que possam se referir uns aos outros com cordialidade, que possam enxergar no outro mais do que um simples objeto e que possam deixar marcas bonitas na vida dos que cruzarem seu caminho.

Se não tem nada de bom a dizer, cale-se.